ENTERRADA SOB O TEMPO E ÁGUAS-VIVAS
Autor(a): Carolina Mancini
Editora: Independente
Páginas:
Ano de publicação: 2023
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"Em Nihil, o misterioso, claustrofóbico e arrepiante romance de Carolina Mancini, as interpretações e metáforas variam de leitor para leitor, mas uma coisa é unanime: é uma leitura poderosa e desconcertante. Em um mundo tomado por uma estranha neblina, cujo contato causa estranhos efeitos nas pessoas, desde um furor suicida até mutilações inexplicáveis, vários sobreviventes permanecem trancados, enclausurados, em suas próprias casas. Alguns se agarram aos mínimos fias de esperança, enquanto outros enlouquecem aos poucos..."
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Enterrada sob o tempo e águas-vivas lançado de maneira independente. O livro é de autoria de Carolina Mancini e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
"Duzentos passos para a frente. Duzentos passos para baixo."
A pequena Joana tem a rotina completamente alterada a partir do momento em que Catarina, a mulher que morava na mesma rua que ela, morre. A morte é dada como suicídio e Joana vê o corpo da mulher repousar sob um leito branco hospitalar até a ambulância.
Durante aquela cena, algo capta a atenção de Joana: a mão de Catarina que balança na maca, onde seu dedo indicador balançava conforme a maca se movimentava em um movimento de "Não", indo de um lado ao outro. O que era aquilo? Catarina se recusava a sair de sua casa? Ela realmente estava morta?
A menina então mergulha nessa obsessão, sendo seu primeiro instinto querer entrar naquela casa e descobrir mais sobre a enigmática vizinha. Conforme sua curiosidade lhe tira o sono, a faz ir de mal a pior na escola e a envolve em uma melancolia extrema, Joana vai aprendendo mais sobre o passado da outra, e principalmente em como ele está conectado com a sua própria história.
"Minha infância estava sendo castigada por aquela loucura. E, mesmo que na época eu não tivesse isso claro, os sinais foram vistos pelos adultos à minha volta. Semanas se passaram, e meu abatimento era nítido. Meses depois, meu rendimento na escola havia caído e a professora exigiu medidas dos meus pais. Anos mais tarde, a terapia é os remédios fizeram do meu tempo um gentil carcereiro, encerrando as lembranças e obsessão no passado."
Enterrada sob o tempo e águas-vivas tem uma imensidão gigante em suas cinquenta páginas. Aqui temos uma narradora que volta as memórias e traumas da infância em uma tentativa de reconfigurar aquele momento tão confuso, aplicando nele alguma lógica.
Tudo parece girar ao redor de Catarina, aquela estranha figura da qual a protagonista tem uma série de memórias que vão sendo reveladas a si mesma conforme ela vai entendendo um pouco mais sobre quem ela era e qual a relação da mulher com a própria Joana. Tudo isso é muito bem construído na história, nos levando a cantos da mente da personagem que eu não esperava ir!
Além de ter essas conexões muito bem conduzidas, eu AMEI a forma como o mistério vai crescendo. Por se tratar de um conto, a fluídez é extremamente necessária, afinal a autora tem pouco tempo para desenvolver suas personagens e o clímax da história. Pelo tamanho do conto, acho que Caroline conseguiu fazer isso com maestria!
A forma como a autora consegue trabalhar o inconsciente e como ele se projeta na realidade dos personagens também é um outro fator a ser destacado, pois nesse livro o flerte que tem entre aquilo que é palpável e aquilo que é sentido se faz muito presente.
Por fim, eu gostei muito da história e esse livro está incrível! Seja na parte do conteúdo ou da diagramação, fica a dica pra vocês!
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