Organizadores: Vanessa Valentim
Editora: Caravana
Páginas: 54
Ano de publicação: 2023
Compre através deste link.
São 37 poemas que habitam 7 diferentes seções do todo Descoberta nu do mundo. O conjunto da obra é um passeio consciente pelo mundo, nu, sem capas, sem defesas, sem véus, sem filtro, vestida de pele e sentidos, dos mais primitivos aos mais sutis. Estar no mundo, dialogar com o mundo, com protagonistas “pouco prováveis”, que permitem o assombro da descoberta. Um passeio nunca é linear e óbvio, mesmo que o percurso seja conhecido. Os pés tocam terra, sub-terra e céu. A autora que não escreve para si, apesar de buscar sua inspiração nos esconderijos mais reservados do seu ser. Observa, absorve, ressignifica, revela e dá sentido a sentimentos que por muitas vezes preferimos não sentir. Sua forma de transmitir traduz o olhar de uma anciã que se distrai por momentos e vira uma criança repleta de desconhecimento útil. A poeta está imersa em um mundo disfuncional que perdeu o sentido, transmite dores, revoltas, reviravoltas intensas e profundas, no entanto encontra seu lugar nu no mundo.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro A descoberta nu do mundo lançado pela editora Caravana. O livro é de autoria de Vanessa Valentim e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
"Nos olhos uma pálpebra véuque o vento move.Luz do sol entra,aquece meu descobrir.
Rosto se abreaparece um suave sorrisode contemplação:o assombro do mundo"
É difícil tentar transcrever a imensidão da qual "A descoberta nu do mundo" mergulha em suas 37 poesias. Entre os diversos temas propostos pela Vanessa Valentim autora desse conjunto poético incrível, acredito que o sentimento de revolta, a identidade e a procura pela liberdade estejam entre os pontos principais para entender um pouco mais sobre o que essa antologia poética retrata.
Um dos fatores que mais me surpreendeu durante a leitura desse poema é a forma como Vanessa realmente consegue se despir de tudo para poder produzir, de forma crua, seus versos. Não deve ser uma tarefa fácil conseguir colocar tudo de lado e focar apenas no que está tentando retratar nas palavras, mas aqui todos os poemas fluem de forma tão livre que esse esforço parece ter sido quase que natural.
"Sou um grão de areia de uma praia imensa.Só escuto o ir e vir das ondas.Sigoem busca das minhas próprias pegadas.Pegadas profundas,carimbo inapagável.Delata minha história,delata minhas decisões,delata minhas covardias."
Este poema, intitulado "Sou", acabou se tornando um dos meus favoritos justamente por refletir a condição humana de forma tão subjetiva. O eu lírico se identifica como um elemento ínfimo diante da imensidão, como um pequeno grão de areia. Além disso, a metáfora das pegadas como uma busca por significado e identidade, mas que também revela a inevitabilidade de deixar marcas que denunciam as escolhas e fraquezas ao longo do caminho é incrível!
"O que acontece quando não acontece nada?Ar entra nos pulmões, diafragma se dilata.O que diz quando se cala?Voz silenciosa e interna, insiste em mostrar importância.O que se escuta quando nada se mexe?O silêncio da existência."
Já o poema "Entendimento" explora a complexidade em situações de aparente inatividade. Ele parece destacar a importância oculta em momentos de silêncio, mostrando assim a vitalidade interior mesmo quando nada aparentemente acontece. A compreensão se esconde no não evidente, e isso me marcou muito.
Uma coisa que me surpreendeu durante a leitura dessa coletânea é a forma como cada poema é uma janela aberta para o mundo interior da autora, que compartilha suas vivências e reflexões sobre a vida de forma delicada, muito bem estruturada e bem visceral.
Sentir essa liberdade é incrível e pode ser incorporada ao ler esses poemas tão confortáveis e reflexivos, por isso, indico fortemente "A descoberta nu do mundo" para quem ama poesia e também para quem quer se aventurar no gênero mas não sabe por onde começar!