Organizadores: Daniel Cruz
Editora: Darkside Books
Páginas: 544
Ano de publicação: 2024
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Rostinhos angelicais podem encantar e esconder muitas intenções. Por trás da doçura aparente e da inocência infantil, reside um mistério obscuro que desafia as concepções tradicionais sobre a natureza humana. É nesse território sombrio onde traumas, desejos, raivas, frustrações, ausências e descobertas podem emoldurar atos de profunda violência praticados por pequenas criaturas aparentemente indefesas. Um mergulho em mentes ainda em formação, mas já machucadas pela falta de amparo psicológico. Casos estarrecedores são documentados e estudados por todo o mundo, uma infinidade de profissionais busca encontrar respostas para comportamentos tão brutais e, por vezes, inesperados. Os anjos cruéis existem, eles vivem entre nós e podem ser filhos das cicatrizes mais profundas de nossa sociedade.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Anjos Cruéis, lançado pela editora Darkside Books. O livro é de autoria de Daniel Cruz e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Diferente de muitos livros de true crime, Anjos Cruéis explora um tema que eu não costumo ver em muitos livros por (talvez) ser polêmico demais, mas também nos coloca frente a frente com uma questão moral BEEEM TENSA: crianças podem realmente nascer “cruéis”? Com isso, o autor nos leva a refletir sobre o que leva uma criança a cometer atos de extrema violência, e se esses atos são resultados da natureza ou de uma criação marcada pelo trauma e negligência.
Eu gostei muito da forma como o livro é dividido: Uma série de capítulos que analisam casos emblemáticos, como o de Mary Bell, uma menina de 11 anos que matou duas crianças em Newcastle, e Jesse Pomeroy, um dos primeiros serial killers infantis dos Estados Unidos, que começou a torturar e matar ainda adolescente.
Cruz também explora casos mais contemporâneos, como o de Jon Venables e Robert Thompson, os garotos britânicos que chocaram o mundo ao assassinar o pequeno James Bulger em 1993. E claro, temos um quadro bem completo do caso em si, mas o autor não se limita a nos dar o panorama histórico, mas também o contexto social e psicológico por trás de cada jovem protagonista.
A pesquisa de Cruz é impressionante, não reconheci trabalho no começo, só depois de ler alguns dos casos presentes no livro que eu fiz uma pesquisa sobre o autor e vi que ele já escreveu milhares de perfis desses casos. Isso realmente faz uma diferença, porque a capacidade de entrelaçar dados históricos com análises psicológicas e sociais é um dos principais diferenciais na escrita de Cruz.
Ele faz isso com uma frieza que, ao mesmo tempo que informa, também impacta e faz refletir, principalmente ao questionar como a ausência de estrutura familiar e apoio psicológico podem influenciar a formação dessas crianças. Casos como o de Eric Smith, que assassinou um garoto de apenas quatro anos por impulso e raiva contidos, nos mostram como esses comportamentos podem se manifestar em idades tão precoces — e isso é bem assustador.
Além disso, a edição traz uma galeria visual de mais de trinta casos históricos e uma lista de filmes relacionados ao tema, que pra quem gosta do tema, é um verdadeiro mergulho nesses estudos. Além disso, a obra é também uma ferramenta poderosa para quem estuda criminologia ou psicologia e quer entender como fatores externos — e muitas vezes negligenciados — podem formar jovens com tendências psicopáticas.
O diferencial de Anjos Cruéis está em como Daniel aborda essa brutalidade com uma análise sóbria, mostrando que a sociedade, em muitos casos, tem uma parcela de responsabilidade na criação desses “anjos cruéis.” A obra não apenas informa, mas questiona nossos conceitos sobre culpa, natureza e criação, trazendo um panorama complexo sobre as cicatrizes que carregamos enquanto sociedade. Recomendo de olhos fechados para aqueles que buscam uma leitura que vá além do comum no true crime.