Organizadores: Gabriel García Márquez
Editora: Record
Páginas: 256
Ano de publicação: 2024
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Doze histórias que vão do mais simples cotidiano ao extraordinário escritas por um dos mais importantes autores do século XX Uma das mais importantes coletâneas da literatura mundial, Doze contos peregrinos são histórias de latino-americanos na Europa, peregrinos que não deixam de sonhar com a terra natal. Gabriel García Márquez, o mestre do realismo mágico, usa como pano de fundo Barcelona, Genebra, Roma e Paris para retratar a solidão através de histórias brilhantes de amor, poder e morte em um livro que passou 18 anos escrevendo.Começando com o conto “Boa viagem, senhor presidente”, sobre um velho líder de um país desconhecido do Caribe derrubado por um golpe militar e exilado em Genebra, onde busca a cura para seu problema na coluna; passando por “O verão feliz da senhora Forbes”, sobre duas crianças que passam o verão na ilha de Pantelaria, no sul da Sicília, sob os cuidados de uma preceptora extremamente rigorosa com elas, mas não tanto consigo mesma; e finalizando com “O rastro do teu sangue na neve”, a trágica história de dois jovens recém-casados em viagem de Madrid a Paris, Doze contos peregrinos é repleto de histórias dotadas da sensibilidade e do humor que são as marcas do grande mestre vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. A capa pode variar.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Doze contos peregrinos, lançado pela editora Record. O livro é de autoria de Gabriel García Márquez e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Doze contos peregrinos, como o próprio título já entrega, reúne uma dúzia de histórias que foram escritas ao longo de um período de quase duas décadas. E, se tem algo que define essa coletânea, é a diversidade de temas, personagens e cenários. Marquez nos transporta para diferentes partes do mundo, mas sempre com aquele toque de surrealismo que só ele consegue dar.
Um dos primeiros contos, Boa viagem, senhor presidente, já nos coloca em contato com a solidão e a decadência de um ex-presidente que, numa Europa distante, se vê frente a frente com a própria vulnerabilidade. A melancolia dessa história ressoa com a experiência de exílio e perda de poder, temas que García Márquez aborda com uma sensibilidade quase cruel. É uma reflexão sobre o que resta de nós quando perdemos tudo aquilo que um dia nos definiu.
Me alugo para sonhar, por sua vez, é um dos contos que melhor exemplifica o realismo mágico dessa coletânea. Aqui, García Márquez nos apresenta uma mulher que literalmente vive de sonhar para os outros. A premissa, já absurdamente criativa, se desenrola com a naturalidade característica do autor, fazendo com que o leitor aceite o impossível sem questionamentos. É um conto que fala sobre destino, sobre o poder dos sonhos e sobre como, às vezes, o inexplicável pode moldar nossas vidas de maneiras surpreendentes.
Agora, se tem um conto que mexe com o psicológico, é Só vim telefonar. Nessa história, uma mulher tem problemas com seu carro e acaba parando num manicômio onde, por uma série de mal-entendidos, é internada contra sua vontade. A tensão cresce a cada página, e o sentimento de impotência que a personagem sente é quase palpável. García Márquez, aqui, brinca com os limites entre o real e o pesadelo, deixando o leitor imerso num clima de angústia e claustrofobia.
Tramontana é outro conto que merece destaque. Ele se passa em um vilarejo à beira-mar e explora o impacto do vento Tramontana nos habitantes da região. Mais uma vez, o autor mostra sua habilidade em transformar o ambiente em personagem: o vento, que deveria ser apenas um fenômeno natural, se torna quase uma entidade com vida própria, capaz de alterar o destino das pessoas. É uma metáfora poderosa sobre como forças externas, às vezes incompreensíveis, podem moldar nossas vidas.
Uma das coisas mais interessantes dessa coletânea é que, apesar de cada conto ter sua própria trama e estilo, há uma sensação de unidade. Todos os personagens parecem estar em algum tipo de jornada, seja ela física, emocional ou espiritual. É como se essas "peregrinações" fossem uma constante busca por algo que muitas vezes eles nem conseguem nomear — seja um sentido de pertencimento, uma reconciliação com o passado ou até mesmo uma explicação para o inexplicável. Essa busca, no entanto, é quase sempre marcada pela sensação de perda e de estranhamento, como se o deslocamento físico refletisse um deslocamento emocional.
García Márquez sempre teve um talento especial para capturar o "extraordinário no ordinário", e essa coletânea é um exemplo perfeito disso. Os personagens são pessoas comuns, mas as situações em que eles se encontram frequentemente beiram o fantástico, o surreal. E é essa mistura que torna os contos tão fascinantes. Mesmo os cenários mais simples — uma sala de espera, uma vila costeira, um carro quebrado na estrada — se transformam em palcos para o inesperado, o inusitado.
No fim das contas, Doze contos peregrinos são histórias que exploram o exílio, a memória, a perda e, claro, a magia que existe em cada detalhe da vida. Se você ainda não leu, fica aqui a minha recomendação: mergulhe nesse mundo de García Márquez e deixe-se levar pelas peregrinações desses personagens tão humanos, e ao mesmo tempo, tão extraordinários.