20 de outubro de 2024

RESENHA: UM DEFEITO DE COR

 


Organizadores:  Ana Maria Gonçalves 
Editora: Record
Páginas: 952
Ano de publicação: 2024
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No livro, Kehinde narra em detalhes a sua captura, a vida como escravizada, os seus amores, as desilusões, os sofrimentos, as viagens em busca de um de seus filhos e de sua religiosidade. Além disso, mostra como conseguiu a sua carta de alforria e, na volta para a África, tornou-se uma empresária bem-sucedida, apesar de todos os percalços e aventuras pelos quais passou. A personagem foi inspirada em Luísa Mahin, que teria sido mãe do poeta Luís Gama e participado da célebre Revolta dos Malês, movimento liderado por escravizados muçulmanos a favor da Abolição.Pautado em intensa pesquisa documental, Um defeito de cor é um retrato original e pungente da exploração e da luta de africanos na diáspora e de seus descendentes, durante oito décadas da formação da sociedade brasileira. O livro inspirou, em 2022, uma exposição homônima no Museu de Arte do Rio (MAR), com curadoria de Amanda Bonan, Marcelo Campos e da própria Ana Maria Gonçalves.


Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Um defeito de cor, lançado pela editora Record. O livro é de autoria de Ana Maria Gonçalves e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.


Um Defeito de Cor é uma obra monumental, literalmente! Com suas quase 1000 páginas, o livro é um épico da literatura brasileira e, sem dúvida, uma das narrativas mais poderosas que já li. Publicado em 2006, o romance é centrado na vida de Kehinde, uma mulher africana que é capturada e trazida para o Brasil como escrava no século XIX. Através da sua história, Ana Maria Gonçalves nos conduz por um verdadeiro mergulho na história do Brasil, passando pela travessia forçada do Atlântico, a brutalidade do sistema escravista e a resistência de quem lutou pela liberdade.

A trama acompanha Kehinde desde a infância na África até sua velhice no Brasil. Ela sobrevive à viagem brutal pelo Atlântico e, ao longo de sua vida, passa por situações extremamente dolorosas, mas também de muita força e persistência. Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a profundidade com que a autora constrói a protagonista – não estamos falando apenas de uma personagem que sofre, mas de uma mulher cheia de complexidade, inteligência e coragem. Kehinde é uma força da natureza, e é impossível não se emocionar com cada desafio que ela enfrenta, principalmente na busca pelo reencontro com seu filho perdido.


Ana Maria Gonçalves consegue fazer algo que poucos escritores conseguem: ela transforma a história pessoal de Kehinde em uma narrativa que é, ao mesmo tempo, profundamente íntima e incrivelmente épica. Através da trajetória dessa personagem, a autora revisita momentos fundamentais da história brasileira, como as revoltas de escravos, a Independência da Bahia e até a presença de figuras históricas como Luiz Gama. Tudo isso é feito de forma magistral, porque Gonçalves não só reconta esses momentos históricos, mas os reinterpreta sob a ótica de uma mulher negra, ressignificando o papel dessas pessoas nas grandes transformações do país.


Uma das principais características de Um Defeito de Cor é a forma como a autora utiliza a oralidade para construir a narrativa. Kehinde, que narra sua própria história já em idade avançada, possui uma voz muito autêntica. A escrita de Ana Maria Gonçalves é fluida, sem abrir mão da densidade emocional que cada evento exige. A linguagem é viva, muitas vezes crua, e essa escolha de estilo reflete a realidade brutal e ao mesmo tempo cheia de vida da protagonista e de seu povo.

Outro ponto de destaque é o aprofundamento cultural e religioso presente no livro. A autora explora com grande riqueza a cultura iorubá, a espiritualidade africana, e como esses elementos se mantiveram vivos nas comunidades negras escravizadas no Brasil. A religião de Kehinde, seus orixás e crenças são uma parte fundamental de sua identidade e fornecem um contraponto ao contexto de opressão que ela vive. Esse aspecto é crucial, porque Gonçalves faz um verdadeiro resgate histórico, dando voz a personagens que, na maior parte das narrativas convencionais, são silenciados ou tratados de forma secundária.


Para entender o impacto desse livro, a gente precisa olhar para a própria Ana Maria Gonçalves. A autora foi uma verdadeira pioneira ao escrever esse romance. Quando o publicou, foi amplamente reconhecida por dar visibilidade à história das pessoas negras no Brasil, o que já era um feito impressionante. Só que Um Defeito de Cor vai além – é uma narrativa que conversa com a memória coletiva, uma obra que desafia a forma como a história foi contada até hoje e nos faz questionar tudo. Gonçalves traz uma perspectiva necessária e urgente, especialmente no contexto atual em que a discussão sobre raça e herança escravista ganha força.

Se eu tivesse que destacar uma crítica positiva que resuma tudo o que esse livro representa, seria a importância de Um Defeito de Cor para a literatura brasileira e mundial. Não só pela sua grandiosidade e ambição como obra literária, mas porque ele reescreve a nossa história de uma maneira que precisamos ler. Ele coloca no centro aqueles que foram marginalizados, silenciados e apagados. E isso, galera, é revolucionário.




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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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