Organizadores: Dalton Trevisan
Editora: Reco-Reco
Páginas: 56
Ano de publicação: 2024
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Chuva é prosa poética que retrata o fenômeno natural como, ao mesmo tempo, cenário, personagem principal e coadjuvante. E como fenômeno social. Na vida de todos – dos que estão dentro de casa ou na rua, no centro ou na periferia –, ela está presente. Sobre ricos e pobres, humanos e animais, vivos e mortos, a chuva se impõe, não fazendo distinção de lugar, pessoa ou classe social. Tudo se transforma com sua chegada. E, gota a gota, ao longo da história narrada nesta obra, vai se formando um panorama da vida nas metrópoles, marcado pelos problemas urbanos que ela causa no dia a dia, bem como pelas diferentes realidades de vida que muito bem conhecemos. “O conto se estrutura neste dramático vaivém entre os que estão sitiados do lado de fora e os que travam uma luta feroz para adentrar na casa”, escreve Augusto Massi, professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo (USP), em seu texto sobre a obra, que fornece chaves para sua leitura e caminhos para o trabalho em sala de aula. “Pouco a pouco, Dalton nos revela uma expressão social da chuva. Por meio de uma série de perguntas, ele insinua como a chuva afeta a vida de quem trabalha: ‘Os turcos que vendem maçã na rua, que fim levaram?’; ‘Guardas abrem os braços na esquina e apitam: por que choves, Senhor?’; ‘E o sorveteiro, que faz do seu sorvete?’”
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Chuva; lançado pela editora Reco-Reco. O livro é de autoria de Dalton Trevisan e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Dalton Trevisan sempre teve essa habilidade ímpar de criar mundos densos e carregados de emoção com poucas palavras. Em "Chuva", não é diferente. O que poderia ser, à primeira vista, um simples conto sobre uma mudança no clima, se transforma em uma análise profunda e perturbadora da condição humana. O autor, com a sua escrita seca e direta, nos leva a refletir sobre o peso das pequenas coisas do cotidiano, tudo sob a lente da melancolia e da solidão.
O livro, que parece se passar em um ambiente simples, descomplicado, revela aos poucos uma teia de sentimentos sufocantes e abafados, como uma chuva que cai sem parar. O cenário e a atmosfera criados por Trevisan são carregados de simbolismo, em que cada gota de chuva é uma metáfora para a tristeza silenciosa que perpassa a vida dos personagens.
E é aí que o autor mostra sua maestria: ele não precisa de mais do que frases curtas, palavras pontuais e uma narrativa precisa para entregar um enredo com tanto impacto. Os diálogos, ou melhor, a falta deles, também são uma parte importante dessa obra.
O silêncio dos personagens diz tanto quanto suas falas, e Trevisan sabe manipular isso com precisão. Ele deixa transparecer a sensação de que, no fundo, ninguém tem realmente algo a dizer; o que todos desejam é ser compreendidos, e a chuva parece ser a única coisa que realmente os escuta.
Embora a trama se desenvolva de maneira simples, ela carrega uma complexidade que só se revela no final, quando conseguimos perceber o quanto a chuva, de fato, é um reflexo do estado interior dos personagens. É como se a água que cai incessantemente fosse a única coisa que os conecta com algo além de suas angústias. A obra traz uma reflexão brutal sobre a alienação e o vazio que permeiam as relações humanas, algo com o qual qualquer leitor pode se identificar.
O que mais encanta em *"Chuva"* é justamente esse minimalismo. Trevisan não precisa de grandes reviravoltas ou de uma trama recheada de eventos para tocar o leitor. Ele vai direto ao ponto, em uma narrativa que se desvia da linearidade convencional, oferecendo uma leitura impactante e, ao mesmo tempo, desconcertante.
Se você já conhece o trabalho de Dalton Trevisan, "Chuva" vai te surpreender pela forma como ele consegue, mais uma vez, nos fazer refletir sobre o que é a vida, os seus altos e baixos e, claro, as relações humanas que se constroem e se desfazem no silêncio das nossas existências cotidianas. Para quem ainda não conhece, esse livro é uma excelente introdução ao estilo único do autor, com toda a sua carga de melancolia e observações afiadíssimas sobre a natureza humana.