Organizadores: Raïssa Lettiére
Editora: Faria e Silva
Páginas: 176
Ano de publicação: 2024
Compre através deste link.
Palavras, criação e o sobrenatural. Três enigmas que caminham juntos desde que o mundo é mundo. Raïssa Lettiére tem uma teoria sobre por que é assim. Em O cochilo de Deus, ela coloca seu texto a serviço dos personagens, e eles, cada um a seu modo, deitam e rolam com a voz da autora. Enquanto Raïssa se fragmenta em homens, mulheres, cães, jovens, velhos, adolescentes e crianças que viajam entre diferentes países e períodos históricos, nós, leitores, somos chamados a entrar em um emaranhado de histórias que se conectam misteriosamente.Este é o convite de O cochilo de Deus: propor uma possibilidade utópica àquilo para o qual não há resposta. Ousado?
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro O cochilo de deus, lançado pela editora Faria e Silva. O livro é de autoria de Raïssa Lettiére e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
No princípio era o Verbo, mas, talvez, um cochilo divino tenha alterado o curso das coisas. Essa é a premissa que move o livro de Lettiére, construído a partir de cinco narrativas que se entrelaçam ao longo do tempo. Cada personagem apresenta um pequeno pedaço do quebra-cabeça maior que é a humanidade – com suas falhas, sofrimentos e momentos de pura poesia.
Com uma habilidade camaleônica, a Raïssa se dissolve em diferentes figuras: homens, mulheres, jovens, idosos e até cães — todos eles tem um lugar nessa narrativa e, em primeiro momento, nos perguntamos: o que interliga tudo isso?
O fio que conecta essas histórias é sempre o mesmo: as perguntas fundamentais sobre criação, imperfeição e o papel do mal no mundo. Por que somos tão cheios de erros, se fomos feitos à imagem e semelhança de Deus? Algo deu errado, ou o erro é parte do plano?
Lettiére propõe uma teoria curiosa sobre a diferença entre criar e "crear" – essa última, uma ideia provocativa que reflete tanto no texto quanto em seus simbolismos. No início da leitura, confesso que me senti um pouco perdido por não pegar qual que era a "vibe" do livro.
Confesso que continuei a ler ainda meio perdido, afinal o que vai conectar Adelita, Yasmin, o poeta do deserto, Sylvia e tantas outras figuras que aparecem aqui?
Confesso que, ao chegar na última história, aqui intitulada de "O narrador", tudo fez sentido e eu fiquei em CHOQUE! Passei a valorizar ainda mais a capacidade de edição e construção literária que Raïssa possuí, pois não é fácil interligar a narrativa de uma forma que seja fluída e que nos remeta a grandiosos nomes da literatura, como Gabriel Garcia Marquez.
Por fim, fica minha indicação de um livro que transgride, brinca com as normas literárias e nos faz refletir sobre a religião, nossas crenças e nossa própria natureza em um misto de emoção, reflexão e, acima de tudo, humanidade.~
"Após a criação, Deus resolveu cochilar. Imagino que tenha decidido que seria mais conveniente fechar os olhos para não ter que encarar os inúmeros detalhes daquela obra que necessitariam de ajustes. E dormiu para assim não precisar enfrentar tantas — mas tantas! — indagações que nós — e eu digo todos nós — faríamos a ele diante dessa obra pretensamente adaptada por mim."