9 de dezembro de 2024

RESENHA: PÃO E CIRCO

 


Organizadores:  Paul Veyne
Editora:  Unesp
Páginas:  784
Ano de publicação: 2024
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Desde pequena, Panem et circenses: por qual motivo a elite romana organizava jogos e distribuía trigo para a plebe? Prática diversionista? Clientelismo? Despolitização? Populismo? Esta obra monumental de Paul Veyne reúne uma investigação minuciosa sobre as origens dessa prática tão comum a aristocratas e imperadores. Juvenal via ali a derrocada da república; a massa trocava seus votos por diversão e alimento. Veyne descontrói essa interpretação monolítica e oferece uma complexa chave de leitura para a compreensão dos acontecimentos históricos, sociais e políticos. Mais que simples mecanismo de controle da plebe, a política do pão e circo remete a práticas herdadas das cidades-Estado gregas de comprometimento com o bem comum, as quais tanto embutem um sentido de dever, como também são usadas como demonstração de superioridade. Apropriadas de modo específico pela elite romana, conforme as características de sua sociedade, essas liberalidades oferecidas ao povo são contextualizadas historicamente e caracterizadas por Veyne como “evergetismo” – um fenômeno mais amplo em que, por diversas motivações, aristocratas realçam sua posição social por meio de doações ostentatórias para a coletividade.

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Pão e circo: Sociologia histórica de um pluralismo político, lançado pela editora Unesp. O livro é de autoria de Paul Veyne e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.

Em Pão e Circo, Paul Veyne realiza um mergulho no coração da Roma Antiga, abrindo a cortina do conhecido “panem et circenses” e revelando as muitas camadas que sustentam essa prática que se tornou símbolo do populismo romano. 
Esse é o meu primeiro contato com Paul Veyne, já conhecia o autor por conta da faculdade, mas nunca tinha lido nada dele fora do âmbito acadêmico. Enfim, o que me interessou foi o fato de Veyne se recusar a aceitar as interpretações superficiais que enquadram a distribuição de trigo e os jogos públicos apenas como uma estratégia de controle social. 

A abordagem histórica e sociológica que ele oferece transcende a ideia simplista de que o povo romano trocava seu voto e cidadania por entretenimento, e busca decifrar as dinâmicas complexas de poder, identidade e prestígio que fundamentavam essas práticas.

A análise proposta por Veyne vai além da famosa crítica da alienação política e à passividade da plebe. Ele propõe o conceito de evergetismo para dar conta desse fenômeno: uma prática pela qual a elite romana, motivada tanto por dever quanto por ostentação, buscava reforçar seu status e sua influência por meio de liberalidades que beneficiavam a coletividade.

 Nesse sentido, o “pão e circo” não é apenas um mecanismo de manipulação, mas um ritual enraizado nas tradições das cidades-Estado gregas e reinterpretado no contexto romano como uma manifestação de superioridade e filantropia pública. 

A grande sacada de Veyne é desmistificar a ideia de que a prática era uma invenção romana para controlar a massa. Em vez disso, ele sugere que a elite oferecia o espetáculo e o sustento com um certo senso de dever, embora, claro, o ato viesse acompanhado de uma reafirmação de poder. 

Essa demonstração pública de generosidade tinha tanto um impacto social quanto uma relevância simbólica. Ao abrir mão de uma interpretação puramente funcionalista, o autor convida o leitor a enxergar o “pão e circo” não só como uma medida política, mas como uma prática enraizada em valores e deveres cívicos.

Além do rigor acadêmico, Veyne se destaca por uma escrita acessível e uma argumentação quase envolvente, que prende o leitor no fascinante universo dos jogos e das práticas de doação. 

No decorrer das páginas, cada detalhe é contextualizado com precisão, e somos levados a perceber que a complexidade da sociedade romana muitas vezes não cabe em uma visão binária e reducionista. Com isso, Veyne nos dá uma obra que, mesmo abordando uma era longínqua, ressoa de maneira provocativa e nos convida a questionar como esses ecos históricos podem ser observados nos jogos de poder de nossa própria sociedade.








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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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