Organizadores: Monica Black
Editora: Darkside Books
Páginas: 336
Ano de publicação: 2024
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Após a Segunda Guerra Mundial, uma sucessão de eventos sobrenaturais se espalhou em uma Alemanha devastada. Um curandeiro messiânico alcançou fama extraordinária, grupos de oração realizaram exorcismos, multidões viajaram para testemunhar aparições da Virgem Maria, pessoas acusaram vizinhos de bruxaria. O que uniu esses eventos, na esteira do Holocausto, foi uma preocupação generalizada com o mal.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Uma Terra Assombrada por Demônios: Bruxas, Doutores Místicos e Fantasmas do Passado na Alemanha Pós-Segunda Guerra Mundial, lançado pela editora Darkside Books. O livro é de autoria de Monica Black e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Quando terminei a leitura de Uma Terra Assombrada por Demônios, fiquei impressionado com o quanto Monica Black conseguiu conectar história, espiritualidade e trauma de uma maneira que poucas obras conseguem. O livro explora os fenômenos sobrenaturais que surgiram na Alemanha do pós-guerra, e, confesso, foi impossível não me sentir atraído pela premissa de que exorcismos, aparições marianas e acusações de bruxaria refletiam algo muito mais profundo: a culpa e a vergonha de uma nação diante do seu passado.
O que mais me chamou atenção foi como Black desconstrói aquela visão otimista que geralmente temos sobre a transição da Alemanha para uma democracia liberal. Claro, o "milagre econômico" dos anos 1950 foi real, mas o livro mostra como, por trás desse progresso, havia um mal-estar espiritual que se traduzia em eventos sobrenaturais e uma preocupação constante com o mal. Foi interessante perceber como esse lado oculto da história alemã dialoga com questões universais sobre memória, moralidade e redenção.
A autora se apoia em materiais de arquivo inéditos para explicar como esses fenômenos sobrenaturais não eram apenas crenças isoladas, mas sim respostas a um silêncio coletivo sobre o nazismo. Enquanto lia, pensei muito na comparação que ela faz com Hannah Arendt, que, ao visitar a Alemanha em 1949, notou como o passado recente parecia pouco comentado e até mesmo ignorado.
Black vai além dessa análise, revelando como, sob a fachada de uma sociedade que tentava seguir em frente, agitava-se uma mistura de desconfiança, ressentimento e ansiedade espiritual.
Além disso, o livro é um mergulho na cultura, nas emoções e na psique de um povo que tentava reconstruir suas vidas enquanto lidava com um passado genocida. Os eventos sobrenaturais que ela narra não são tratados como curiosidades ou superstições, mas como reflexos de um trauma coletivo que, de alguma forma, ainda busca explicação.
Enquanto lia essa história, não conseguia parar de pensar em como a autora aborda a religiosidade e o medo do mal como formas de lidar com uma memória tão fragmentada. Foi uma experiência que me fez enxergar a história alemã de outra forma, não apenas como um registro de fatos, mas como uma narrativa cheia de complexidade moral e emocional. Recomendo demais o livro para quem busca não só compreender o impacto do nazismo, mas também refletir sobre como lidamos com os fantasmas do nosso próprio passado.