RESENHA: A NEVE E A FLOR

 

Organizadores: Matheus Moori Batista

Editora: Independente

Páginas: 74

Ano de publicação: 2024

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Eu devo aceitar que quem eu mais amo esteja esperando pela morte? E existe uma maneira certa de se esperar pela morte? Essas questões impactam diretamente na vida de Erin, uma pequena mamute na era do gelo, onde cada animal tem a sua tradição para lidar com o inevitável fim. Em sua jornada, Erin conhecerá outras culturas, como a dos corvos que não acreditam em pós-vida, passando pelos predadores, adeptos da coragem até o último suspiro, mas principalmente tentará entender os costumes de seu próprio povo, pois são estes que guiarão a sua avó pelo caminho em que a neta não poderá acompanhá-la. "A neve e a flor" é uma estória sobre luto, o que não quer dizer que seja uma estória triste, pois além da morte, o luto envolve acima de tudo, amor.

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro A neve e a flor. O livro é de autoria de Matheus Moori Batista e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.     

A trama gira em torno de Erin, uma pequena mamute que vê sua avó preparar-se para seguir o "último caminho", uma tradição de seu povo que exige coragem para aceitar o inevitável. Erin, no entanto, não entende o motivo da matriarca. "Como se espera ou se caminha para a morte?" Com essas perguntas em mente, ela acaba se aventurando sozinha para encontrar sua avó no meio de sua jornada. 

"Quando tudo se tornar uma grande escuridão para mim, vou ao menos encontrar consolo em saber que uma luz ainda brilha para aqueles que me são amados, e continuará a brilhar para os que vierem depois deles."  

Nisso, Erin encontra Munnin e outros corvos céticos, que veem a morte como um simples fim; Roar e outros predadores que enfrentam o último suspiro com ferocidade; e, finalmente, revisita os próprios rituais de sua manada, que mesclam respeito e mistério através da jornada de luto, revelando que a morte, embora universal, é vivida de infinitas formas.  

  "Não raras vezes, a partida é mais difícil para quem fica do que para quem vai." 

Além disso, Erin conhece também a brutalidade do mundo selvagem ao se deparar com predadores como Bjorn. Tudo isso enquanto tenta entender mais sobre a vida e todas suas complexidades. 

Eu simplesmente amei a forma como Matheus Moori usa os animais para discutir filosofias humanas sem cair no didatismo. Uma coisa que eu já falei nos vídeos que gravei sobre esse livro foi que o livro possuí um carácter de fábula, até mesmo as onomatopeias presentes na história dão esse caráter mais infantil e lúdico, mas em nenhum momento a leitura se torna mais superficial por conta disso — pelo contrário! 

A gana de assuntos que Matheus consegue debater nessa história tão curta realmente é impressionante! Destaque para a abordagem do luto como um processo cheio de nuances pelos quais Erin passa com relação a sua avó e também ao ciclo da vida.

 A história não romantiza a dor, mas mostra como o amor persiste nela. A tradição dos mamutes em não apresentar como a brevidade da vida com uma resposta absoluta foi o que mais me conquistou na história (isso ao lado de personagens extremamente carismáticos). Por fim, sobra um convite à reflexão: será que rituais bastam para curar? Erin descobre que o luto não é sobre esquecer, mas sobre transformar a saudade em legado.

"A verdadeira forma de amar está em perceber que nada nem ninguém durará para sempre. Quando o tempo termina para nós, nós aprendemos a não lamentar pelo tempo que já não temos, mas a agradecer pelo tempo que tivemos."