Organizadores: Rafael Nogueira Fernandes
Editora: Bestiário
Páginas: 180
Ano de publicação: 2024
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Olga pede ajuda ao vendedor de livros sem saber que este simples ato mudaria sua vida. Um encontro ao acaso, ocorrido por uma situação completamente inusitada. Seria isso o que chamam de amor à primeira vista? Neste livro, Rafael Nogueira Fernandes traz reflexões sobre a vida, o universo e tudo mais, por meio do diálogo de duas pessoas comuns – ou nem tanto assim – que, talvez, estivessem predestinadas a se encontrar. Entre vinhos e abstrações, Olga e Alex passam algumas horas de suas vidas à procura de respostas para as questões mais profundas que regem a humanidade, ao mesmo tempo em que tentam responder às suas próprias questões, seus próprios traumas. Em meio ao turbilhão de sentimentos, surge uma promessa. Teria o amor um prazo de validade? Uma narrativa curta, mas extremamente profunda, contada por um narrador improvável: o próprio Amor.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro O voo do pássaro caído, lançado pela editora Bestiário. O livro é de autoria de Rafael Nogueira Fernandes e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Que história maravilhosa... Bom, esse é o segundo livro que leio do Rafa. O anterior, uma coletânea de contos chamada "O megalomaníaco medíocre e outras histórias" trazia diversas divagações e reflexões feitas por alguns personagens durante a pandemia (inclusive tem resenha aqui no Porão).
Novas reflexões agora são feitas em "O voo do pássaro caído", onde Rafael consegue tecer uma narrativa delicada e introspectiva, explorando as nuances do amor, do acaso e das inquietações existenciais que permeiam a condição humana. Com uma estrutura agora em romance e uma prosa fluida, esse livro fala sobre conexões que transcendem a lógica, guiado por um narrador inusitado: o próprio Amor.
A história acompanha Olga e Alex, dois personagens aparentemente comuns, cujas vidas se entrelaçam em um encontro fortuito em uma livraria. O diálogo entre eles, repleto de referências a vinhos, filosofia e questionamentos universais, serve como veículo para discutir temas como destino, trauma e a efemeridade das relações enquanto exploram suas próprias vulnerabilidades;
"Esse é o grande x da questão, Olga: não ter controle sobre nada. Posso amanhã ser atropelado e todos os meus sonhos morrerem comigo, bem como aos trinta e cinco anos desenvolver um câncer terminal que me dê alguns poucos meses de vida. Quem garante que eu não tenha uma vida completamente desconexa daquela com a qual eu planejei por fatos trágicos que sequer tive o poder de evitar? Esse imponderável das coisas me assusta. Não ter controle de nada sobre nada. Qual é a certeza que carregamos da existência?
A escolha de personificar o Amor como narrador é um pontos mais legais em fazer a leitura desse livro. Isso porque perspectiva oferece um olhar poético e, por vezes, melancólico sobre as ações humanas, questionando se o sentimento mais celebrado pela arte e pela literatura teria um "prazo de validade". A voz da narrativa e, muitas vezes, dos próprios personagens, oscila entre a esperança e a resignação, reforçando a dualidade entre o ideal romântico e a realidade imperfeita dos personagens.
Fernandes demonstra habilidade em construir cenas intimistas, onde o ambiente — como a livraria e os momentos compartilhados entre os protagonistas — funciona quase como um terceiro personagem. Vi que o autor tem muitas referências de grandes escritores russos como Dostoiévski e Tolstói; e em muitas partes me senti lendo "Noites Brancas" — um pequeno grande romance de Dostoiévski.
"Olga estava absorta em seus pensamentos, queria dizer e externar aquilo que sequer sabia que guardava dentro de si. Aqueles dois primatas sentiam que suas existências permitiam tamanho fascínio, existir além de si por meio do outro. Ele atentamente a ouvia. Tocava suas mãos de forma suave e deslizava seus dedos sobre os seus que atravessavam as mãos."
Um romance que se dá pelo compartilhamento de almas e mentes, ao mesmo tempo em que se cria um ensaio disfarçado de ficção, onde as perguntas valem mais que as respostas. É uma delícia acompanhar a forma como Alex e Olga discorrem sobre os mais variados temas, já o final...
Eu fiquei bem surpreso com a linha da qual Rafa segue nos últimos capítulos! Ainda temos o amor protagonizando, no entanto em um cenário extremamente diferente... Não contarei mais para não estragar a surpresa de ninguém, mas eu simplesmente amei a forma como a narrativa é finalizada.